Um seleto grupo de idosos na casa dos 80 e 90 anos de idade mantém poderes cognitivos excepcionais
Cientistas americanos acreditam que podem estar perto de responder por que existem idosos que mantêm raras capacidades cognitivas em comparação com pessoas 30 anos mais jovens.
Essa elite de “superidosos” tem células nervosas maiores em regiões do cérebro responsáveis pela memória, segundo indica uma nova pesquisa publicada no The Journal of Neuroscience.
Os octogenários podem ter nascido com essas células ou seus neurônios podem ter crescido mais, ou encolhido menos, que os das outras pessoas com o passar da idade. Mais estudos são necessários e poderão ajudar a encontrar novas formas de combater a demência.
Os pesquisadores querem determinar particularmente como as mudanças nas células nervosas podem afetar a saúde cerebral de longo prazo. Será que elas oferecem proteção na idade avançada ou são simplesmente um reflexo da melhor saúde do cérebro?
Exames após a morte
O Programa de Pesquisa do Superenvelhecimento da Universidade do Noroeste em Illinois, nos Estados Unidos, existe há mais de uma década. Seu principal objetivo é descobrir o que mantém o cérebro cognitivamente ativo e o que protege as pessoas da demência.
Os participantes devem ter mais de 80 anos de idade, ter excelente memória, estar dispostos a passar por vários exames e verificações e concordar em doar seu cérebro para pesquisas médicas após a morte.
Baseados em trabalhos anteriores usando imagens de ressonância magnética, os pesquisadores já concluíram que os cérebros dos chamados superidosos têm aparência e funcionamento similar aos de pessoas com 50 anos de idade, e não de 80 anos.
A pesquisa mais recente — com base em exames realizados após a morte — concentra-se em uma região do cérebro conhecida como córtex entorrinal, que está relacionada à memória.
Os pesquisadores estudaram os cérebros de seis superidosos, sete octogenários com “cognição mediana”, cinco pessoas com Alzheimer em estágio inicial e seis doadores mais jovens que morreram de doenças não relacionadas ao cérebro.
Eles concluíram que os superidosos tinham neurônios maiores e mais saudáveis naquela região do cérebro do que os demais. E, aparentemente, os superidosos têm menos propensão a acumular depósitos anormais de proteínas, conhecidos como placas, tipicamente observados nos cérebros de pacientes com Alzheimer.
Rosa Sancho, da organização britânica Alzheimer’s Research UK, acredita que projetos como o Programa do Superenvelhecimento podem ajudar a descobrir e desenvolver novos tratamentos para a demência.
“Novas pesquisas precisarão descobrir exatamente o que faz com que essas células do cérebro dos superidosos sejam maiores e mais bem protegidas”, afirma ela. “Por exemplo, os superidosos nasceram com características genéticas específicas? E, neste caso, quais são essas características?”
Sancho acrescenta que “embora os pesquisadores estejam trabalhando para compreender como impedir mudanças do cérebro que causam a demência, existem pequenas medidas que todos nós podemos tomar para manter nossos cérebros saudáveis à medida que envelhecemos.”
A causa exata do mal de Alzheimer ainda não é totalmente conhecida, mas se acredita que diversos fatores aumentem o risco. Alguns, como a idade e a genética, são inevitáveis, mas fatores ligados ao estilo de vida, como não fumar, comer alimentos mais saudáveis e praticar exercícios, podem reduzir esse risco.
A principal pesquisadora da Universidade do Noroeste, Tamar Gefen, afirmou à BBC que eles planejam elaborar um quadro detalhado dos superidosos para compreender mais a respeito.
“Precisamos estudar sua genética, fatores de estilo de vida e seu nível educacional”, afirma ela. “Precisamos também observar seu histórico e suas narrativas pessoais. Tive a sorte de conhecer essas pessoas inspiradoras intimamente, na vida e na morte.”
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63167068