Na pandemia da Covid-19, nossas casas, nossos lares e a vida intrafamiliar assumiu uma relevância jamais vista na sociedade contemporânea. E as mulheres, sobretudo, as mães assumiram um protagonismo destacável e indispensável para que as famílias no mundo inteiro enfrentassem e transcendessem a estes tenebrosos e desafiadores tempos pandêmicos, com o menor grau de impacto em saúde física e mental de cada familiar, embora, todo cidadão a nível global foi afetado direta ou indiretamente por esta hecatombe.
Numa era, em que as mulheres lidam diariamente com expectativas contraditórias sobre o que pensam de si mesmas, sobre o seu comportamento e seus diversos papéis na sociedade e na família, enfrentar a realidade da pandemia dentro de casa tendo que compatibilizar e administrar em tempo real a vida pessoal, maternal, conjugal, parental, profissional, social, etc., com dedicação ininterrupta num desumano esforço de serem igualmente bem sucedidas em todos estes papéis algo inatingível, tem levado muitas mulheres e mães ao mais profundo sofrimento psíquico, adoecimento do corpo e da mente, com prejuízos a curto, médio e longo prazos. Larson (2013), analisa esta neurose do nosso tempo de “A Síndrome da Mãe Perfeita.”
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres são o grupo mais vulnerável ao acometimento de problemas e transtornos mentais em tempos de Covid-19, tendo em vista que além de ter que conduzir tudo o que acontece no cotidiano da casa e família, incluindo as aulas on-line dos filhos, paralelamente tem que desenvolver seu trabalho profissional em home office.
Ter que assumir o lar com tudo o que o envolve 24 horas por dia, compatibilizando vida familiar com a profissional, sem poder contar com o apoio da secretária, da escola, creche, casas dos avós etc., e por vezes, sem a colaboração do marido, tem exposto as mulheres mães ao acometimento dos mais diversos quadros somáticos e psicopatológicos.
Conforme o jornal O ESTADÃO, em matéria veiculada em 03.05.21, “7 milhões de mulheres foram obrigadas a abandonar a vida profissional para atender as demandas domésticas e as necessidades dos filhos exigidos pela pandemia. Além do retrocesso, a saúde mental dessas mães foi altamente comprometida gerando estresse e depressão.” (Por: Carolina Delboni; fonte:estadao.com.br; em 03.05.21)
A referida matéria, apresenta os resultados do estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, para aferir a adaptação das mães e crianças de 1 a 6 anos ao período de isolamento social, apontando que segundo os dados levantados: 63% das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia, 78% delas relataram sentimentos de desconforto com o coronavírus e 34% tiveram sentimentos negativos (medo, angústia, ansiedade e insegurança) durante o período. Em uma análise segmentada, detectou-se que 89% das mães que já apresentavam indícios depressivos antes da pandemia continuaram com os sintomas e 47% das mães que não tinham sinais passaram a apresentá-los.
Visando a proteção da saúde integral, que cuidados as mães, especialmente as de filhos pequenos, devem observar para protegerem sua saúde física e mental neste período que atravessamos? 1) Estabeleçam objetivos realistas; 2) Planejem o dia, focando naquilo que é essencial; 3) Busquem o apoio do esposo/companheiro para a condução do lar; 4) Envolvam todos os membros nos afazeres domésticos; 5) Aprendam a delegar tarefas e supervisioná-las com sabedoria; 6) Mantenham as regras de separação entre a vida profissional e familiar; 7) Cuidem de sua saúde física e mental; 8) Separem tempo diário para o descanso pessoal e criem momentos também para a família; 9) Separem tempo para o contato com os amigos e, sobretudo, tempo com Deus; 10) Se as dificuldades estiverem acima de seu domínio, já a adoecendo, procurem ajuda especializada.
Na concepção cristã, uma vez que a identidade da mulher/mãe está centrada em Cristo, o verdadeiro sentido da maternidade não se expressa na capacidade da mulher ser multifuncional ou multitarefa, mas, conforme Balswick & Balswick (2013) em sua habilidade demonstrar “virtudes de amor, misericórdia, humildade, paz, justiça e compaixão”, para consigo mesma e com os seus. O livro de Provérbios, capítulo 31, destaca a sabedoria da mulher.
Conforme os referidos autores, a fé cristã encoraja as famílias a praticarem a dupla liderança e copaternidade, onde os pais (pai e mãe) estão diretamente comprometidos e envolvidos na vida intrafamiliar, compartilhando papéis e afazeres domésticos, num ambiente colaborativo, educativo, onde os cônjuges esforçam-se ao máximo para favorecerem um ao outro, a fim de que nenhum dos dois sinta-se desrespeitado, sobrecarregado e injustiçado.
Quando o casal se compromete ao apoio mútuo nas tarefas domésticas, o ambiente familiar transforma-se num espaço de alegria, de intimidade, de afeto, de profundos vínculos e laços familiares, de crescimento pessoal, de segurança e desenvolvimento emocional dos filhos e saúde integral de todos, dentre vários outros benefícios.
Enquanto não houver sensibilidade e disposição de todos os membros da família, para posicionarem-se como colaboradores e participantes ativos e assíduos de todos os momentos do cotidiano familiar, a mulher mãe ficará sobrecarregada, vulnerável e exposta a todo tipo de aborrecimento, enfraquecimento emocional e adoecimento.
Para Balswick & Balswick (2013), a “educação colaborativa” é a chave para que em tempos bons e adversos, o lar mantenha-se protegido dos abalos comuns dos grandes e graves períodos turbulentos que pode acometer uma família e se transforme num espaço de esperança e grande aprendizado para todos.
Neste Dia das Mães de 2021, muitas famílias estão sob o impacto do sofrimento, da dor, da perda e do luto, como todo o país e o mundo. Celebrar este dia neste ambiente de calamidade mundial, só é possível quando a solidariedade, a partilha, a colaboração, o respeito, o perdão, a estima, a esperança, a fé, a resiliência e todos os valores nobres e elevados da ética universal e da fé cristã que compõe a base de uma vida intrafamiliar saudável, são seu patrimônio maior, sejam naturalmente seu estilo de ser e viver. Que possamos nos encorajar mutuamente neste mês do lar e expressarmos amor uns pelos outros. Deus abençoe nossas mães, nossos lares, nosso país e o mundo.
Referências:
- Delboni, Carolina. Pandemia impacta saúde mental materna e dá sinais de estresse e depressão. Fonte: estadão.com.br; em 03.05.21
- Balswick, Jack O & Balswick, Judith K. A Família: uma perspectiva cristã para a família contemporânea. Tradução: Lena Aranha; 1ª Ed.; Pompéia-SP; Universidade da Família, 2013.
- Larson, Connie. A Síndrome da Mãe Perfeita. Livro: Mulheres Aconselhando Mulheres. Fitzpatrick, Elyse; Trad. Meire Portes Santos; 1ª Ed.; São Paulo: Nutra Publicações, 2013