OS DESAFIOS DE EDUCAR OS FILHOS NA ERA DA TERCEIRIZAÇÃO

A pandemia escancarou ainda mais nosso papel como pais, ou melhor, a nossa ausência em nossa tarefa de pais. De repente nos vimos “obrigados” a passar muito mais tempo com nossos filhos e assumir as rédeas da educação deles, ou melhor reassumir um papel que havíamos terceirizado para as escolas, babás, atividades extra escolares, igrejas, telas e qualquer coisa que pudesse manter nossos filhos ocupados e aparentemente cuidados e protegidos. 

Ao redigir este texto não estou no papel de profissional da educação, da pedagoga pronta para apontar o dedo ou me assentar no pedestal do conhecimento para julgar os pais. Pelo contrário, sou uma mãe que desde o nascimento das minhas filhas (Lívia 11 anos e Alícia 8 anos) tenho me esforçado para fazer o melhor na educação delas, mas ainda assim, algumas vezes caí na tentação de transferir minha responsabilidade de educar minhas filhas para outros.

Portanto, estou aqui, numa atitude empática, reconhecendo minhas fragilidades maternais para encorajar pais e mães a tomarem para si a responsabilidade da educação de seus filhos. 

Também não quero trazer pressão ou remorso para o que não foi feito, mas trazer uma palavra de encorajamento e esperança para o que é possível fazer daqui para frente. Em se tratando dos nossos filhos nunca é tarde de rever posturas e agir em favor da educação deles. Ainda há tempo de nos comprometermos com a educação dos nossos filhos, e acreditem, eles estão sedentos da nossa presença, do nosso afeto, da nossa disciplina, dos limites… estão ansiosos para serem acolhidos e amados pela educação que vem do lar. Todo o resto são parceiros, para nos apoiar na formação dos nossos filhos. Porque a base da educação deles é nossa responsabilidade e privilégio, e não devemos e não podemos delegar a ninguém mais, seja pessoa ou instituição.  

Não quero dizer com isso que vamos abdicar de tudo mais em nossas vidas, mas se for preciso abrir mão de algo por seus filhos, faça agora, sem culpa ou remorso. Porque remorso maior será olhar para trás e pensar no que poderíamos ter feito por nossos filhos e não fizemos. E pior ainda, carregar a culpa dos prejuízos que nossa ausência causara neles. 

Educar filhos dá trabalho, exige renúncia, entrega, dedicação, esforço diário, requer abrir mão do nosso descanso, bem-estar, “sossego” e privilégios para investir amor, tempo, exemplo, correção, atenção, diversão, diálogo na vida dos nossos filhos. E saber que, toda essa entrega não garante que seu filho será o adulto que você espera, porque ele é um indivíduo com personalidade e decisões próprias. 

Mas, com certeza será uma pessoa que carregará em si as marcas do amor e da dedicação de seus pais em fazer o melhor por eles, carregará as memórias afetivas das refeições em família, das brincadeiras, das conversas, das leituras, dos passeios no parque, das conversas sérias ou banais, dos filmes que assistiram juntos comendo pipoca, das comidas que fizeram juntos, dos jogos, do sorvete no fim de semana…. são estas marcas que ficarão e não a escola que você com tanto esforço pagou, ou das milhares de atividades extras que você proporcionou ou dos presentes caros que você comprou.

Quando terceirizamos a educação dos nossos filhos eles não lembrarão do profissional excelente que nos tornamos, mas do pai ou mãe que não fomos. Não se trata deixar de viver ou trabalhar por causa dos filhos, parar de trabalhar nos dias de hoje é um luxo que poucos têm, mas se trata de assumir nosso papel de pai e mãe e organizar nossa vida e agenda para ser pais e mães de nossos filhos, porque ninguém pode assumir ou substituir  um papel que é exclusivo meu e seu.

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